O Livre Arbítrio
Ir∴ Paulo Roberto Armelin
A∴ R∴ L∴ S∴ 31 de Março Nº 152
À G∴ D∴ G∴ A∴ D∴ U∴
Somos livres ou somos escravos dos deuses?
Nascemos e tão logo crescemos, passamos por uma experiência que marca nossa fase de adolescentes. Nossos pais nos incomodam e um profundo desejo de liberdade, invade nossos pensamentos. Desejamos abandonar nossa família, pensamos ir embora de casa.
Preciso ser livre, fazer experiência do próprio existir. Isso tem causado muitos problemas nas relações pais e filhos, pois os pais por seu lado não confiam que seus filhos possam existir de forma independente, e os filho por sua vez, não conseguem explicar esse sentimento de liberdade que desejam tão profundamente. Muitas brigas seriam evitadas se desde bem pequenos, fossemos amadurecendo a ideia de que fomos feitos para a liberdade. Neste raciocínio, a vida seria um grande rio no qual fomos colocados. O sentido que caminha esse rio não pode ser invertido. Se o rio avança na direção do mar é para lá que iremos fatalmente.
Se a existência humana é em sua dimensão, entenda-se enquanto matéria, nascer, crescer, fazer algumas experiências, e morrer, o que é que eu posso mudar? Avanço neste rio e sem mesmo querer vou descendo cachoeiras abaixo, vou encontrando pessoas que ficam enroscadas pelas curvas deste rio, mas queiramos ou não, todos desembocaremos no porto, no qual toda matéria humana é transformada em pó.
Seria eu somente passageiro desta viagem existencial? Posso fazer prevalecer minhas ideias nessa caminhada? Seria liberdade do filho que nasce ser seguidor dos mesmos preconceitos sociais e políticos do pai? Esses preconceitos dos pais não seriam verdadeiros dogmas por eles defendidos?
Penso que pouquíssimas pessoas escapam dessas experiências, porém, na vida adulta, poderemos, se quisermos, nos desvencilhar de preconceitos, das demãos de tintas com as quais nos pintaram sem o nosso consentimento e nos transformarmos em sinceros buscadores da liberdade.
A filosofia nos convida a sermos livres, a pensarmos, a refletirmos sobre o arbítrio humano em relação à vida. E preciso ser livre, porém é necessário o desejo íntimo de liberdade. Sem esse desejo fatalmente estaremos escolhendo algo que já tenha sido escolhido por outros. Neste caso, estaríamos repetindo ideias e desejos de outros, e o pior, pensando ser nosso o pensamento que o outro impõe sobre nós.
Para ser livre é preciso pensar, refletir, meditar. O pensamento nos transporta a todos os lugares. O pensamento é o que difere a matéria consciente da matéria inconsciente. O pensamento, o pensar deverá ser desejo habitará o coração humano. Poderia um coração mal formado ser justo, caridoso, leal, honesto, não ser mentiroso?
Nosso cérebro, pela lei do reflexo, para situações iguais dá à mesma resposta. A isso chamamos de automatismo. O perigo do automatismo é de criar maus hábitos que arrastam o homem para o mal. Por consequência, o livre arbítrio existe para o homem em proporção do desenvolvimento da sua inteligência e sua espiritualidade. O homem que não estimular sua inteligência e sua espiritualidade, fatalmente será escravo da matéria efêmera e transitória, tenha ou não consciência disso.
O homem dominado por suas paixões não pode ser livre. O mentiroso tem que defender a sua mentira. Por isso a importância que devemos dar ao nosso aprimoramento intelectual e espiritual.
Com o aprimoramento intelectual, na medida em que vamos lapidando nossa mente, nossa consciência vai pouco a pouco dissipando a cegueira que nos domina. É pelo conhecimento, já que como maçons desejamos luz, que poderemos desenvolver nossas capacidades da imaginação, da concentração, da razão e poderemos conhecer a natureza das coisas. Com o uso da inteligência o homem se distingue do animal e, aos poucos, vai transformando todos seus apegos materiais, todos seus sentimentos inferiores em sentimentos virtuosos, honrados e sábios.
O aprimoramento espiritual é consequência do desenvolvimento intelectual, ou seja, ,a medida em que diminuímos os vícios, mais nos espiritualizamos.
O homem espiritualizado já não consegue viver com vícios e paixões, ou seja, já não lhe é mais possível ser escravo dos vícios e, neste momento, poderá atingir o verdadeiro estado de mestre, pois que conheceu a verdade e, a verdade o fez livre. Portanto, não há liberdade fora da verdade.
Isso é muito duro, já que não se aceita meia verdade, não se aceita meio maçom, meio homem.
Fica muito claro que a verdade se confunde com a liberdade, a verdade me faz livre e a liberdade me torna verdadeiro. Liberdade e verdade são para o homem, de fato e de direito, mas são conquistadas com muito sacrifício e muita dor, pois que nos modifica interiormente. Este modificar dói, dói demais, mas é o único caminho rumo a iluminação.
É por esta razão, que a maçonaria exige sacrifícios de seus adeptos. Sacrifício de obediência semelhante ao de Abraão.
É no combate dos vícios, no aperfeiçoamento intelectual e espiritual, no combate às hipocrisias hipócritas e aos que vivem sem princípios que conquistamos nossa liberdade, pois que iluminados pela sabedoria poderemos atravessar o mundo dos desejos inferiores e nos comunicarmos com as inteligências superiores e daí saborearmos uma perfeita harmonia com o nosso íntimo Senhor e seremos um com Ele.
Quem é mais livre? O trabalhador que é escravo do horário, do levantar-se cedo., do produzir constante em nome do progresso contínuo, ou o andarilho que vaga livremente pelo mundo sem se incomodar com os juros, com o dólar ou com a bolsa de valores?
Vivemos uma liberdade escrava de produzir as alegrias para o futuro. Haverá futuro? Não será sempre presente? Estamos sempre procurando ou esperando o dia da felicidade que nunca alcançamos, pois ávidos de trabalho nunca temos tempo para meditar, refletir e pensar sobre nossa existência. Perdemos tantas alegrias, que poderiam facilmente ser encontrado na flor da primavera ou num nascer magnífico do sol da vida.
O homem é matéria em via de espiritualização, isso deveria ser muito bem claro para o iniciado em maçonaria, o homem que desejou a luz não pode mais aceitar regredir, este é um processo que, se verdadeiro, torna-se irreversível, pois alcançar a Jerusalém celeste é o mais sincero desejo do buscador. A evolução, porém, não é um processo aleatório, mas um processo físico, intelectual e espiritual. É preciso querer e só podemos acreditar no querer sincero de um homem, quando seu querer vem acompanhado de provas. Daí a necessidade das provas realizadas pelo profano, em maçonaria, durante sua iniciação.
Sou livre, estou aqui para me tornar maçom, quero me tornar homem justo, quero me transformar em pedra polida para ser útil na grande construção humana. Não bastam, porém, boas ideias ou boas intenções, é preciso coragem e vontade para extinguir os vícios, pois nada acontece por acaso, exigirá da nossa parte viver com a virtude, honra e sabedoria para alcançarmos o verdadeiro equilíbrio.
O homem livre viverá com utilidade para obra do GADU. Viveremos como Deus homem ou filhos de Deus, e aí teremos vencido todas as provas e dificuldades para vivermos no caminho do qual jamais nos afastaremos.
O acaso, o imprevisto só acontecerá na vida do ignorante, pois que para o sábio tudo já havia sido previsto e pensado.
Portanto somos condenados a ser livres, mas a única possibilidade de sermos livres é buscando a verdade. Não há liberdade na matéria, uma vez que a matéria se dissipa e acaba e isso restringiria e condicionaria nossa liberdade ao nível do sensível e efêmero. A liberdade deve ser duradoura, portanto, deverá estar acima e além do mundo sensível.